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AS RAÍZES HISTÓRICAS E FILOSÓFICAS DA
PSICANÁLISE.
Programa de Pós Graduação em Filosofia –
UFMA
Professor: Dr. Felipe Teles
1-Contexto histórico-filosófico
Podemos considerar o pensamento moderno (séc. XVII / XVIII
Iluminismo) como sendo caracterizado por sua ruptura com o pensamento
medieval (séc.V até séc. XV). Valoriza o indivíduo, a consciência, a
subjetividade, a experiência e a atividade crítica, em oposição às instituições, à
hierarquia, ao sistema e à aceitação dos dogmas e verdades estabelecidas, que
caracterizam a ordem social medieval.
Situando historicamente: Desenvolvimento da economia mercantilista, o
descobrimento do Novo Mundo, as grandes navegações, a Reforma
protestante, as novas teorias científicas no campo da física e da astronomia
(Galileu e Copérnico), são fatos que ocorrem em torno dos sécs XV a XVII e
marcam uma visão de mundo que se contrapõe à visão medieval,
caracterizando, assim, o surgimento do mundo moderno
-Modernidade: Nova forma de pensamento e de visão de mundo
inaugurada pelo Renascimento e que se contrapõe ao espírito medieval,
desenvolvendo-se nos sécs. XVI e XVII com Francis Bacon, Galileu e
Descartes, dentre outros, até o Iluminismo do séc.XVII, do qual é a principal
expressão
- René Descartes1[1]
(1596-1650) XVI e XVII França A dúvida
metódica: Se eu duvido de tudo o que me vem pelos sentidos, e se duvido até
mesmo das verdades matemáticas, não posso duvidar de que tenho
consciência de duvidar, portanto de que existo enquanto tenho essa
consciência. Sua filosofia parte da presença do pensamento e não da presença
do mundo. Descartes afirma a universalidade da consciência.
Galileo Galilei (1564-1642) (Renascimento) nos mostrou que a nossa percepção a olho nu
pode nos enganar (defendendo as idéias de Copérnico1473-1543), de que a Terra gira em
torno do sol, golpe no antropocentrismo), que a Natureza escreve em linguagem
matemática. A partir da idéia de que a percepção pode nos enganar, nos iludir, Descartes
desenvolve a idéia de que nossa única certeza é o pensamento e todos os outros processos
eram funções do corpo. Desse modo ele introduz uma dualidade físico/psicológica que
desvia a atenção do conceito abstrato de alma para o estudo da mente e suas operações.
Como resultado, os métodos de pesquisa deixaram a análise metafísica e abraçaram a
observação objetiva.
Com Descartes temos a idéia de mecanismo aplicada ao corpo humano.
A filosofia mecanicista era de uma influência tão grande que foi só uma
questão de tempo para que fosse aplicada também à mente humana.
Sendo assim, foi Descartes que abriu um campo que possibilitou o
surgimento dos estudos sobre os mecanismos da mente.
Se na Idade Média o conhecimento era concebido de maneira totalizadora e totalizante, onde
a separação sujeito-objeto não era considerada, será, principalmente, a partir de Descartes que o
objeto do conhecimento poderá ser decomposto e representado.
2-A doença mental no séc. XIX
Foi a visão cartesiana (séc XVII) de mundo que impôs a oposição entre razão e
desrazão. Para Descartes não havia um pensamento louco, mas sim um homem louco.
Portanto, o que distingue o homem do animal é a racionalidade. Loucos eram vistos
como animais a serem domados.Foucault nos diz que a loucura é uma produção do
séc. XVIII (Inglaterra-1798), através dos seus saberes, suas práticas e suas
instituições.
No séc.XIX a medicina tenta diferenciar a loucura da simulação. A
principal busca dos médicos era por uma lesão anatômica que explicasse a
doença.
William Cullen (séc. XVIII) classificou as doenças mentais e foi o
primeiro a utilizar o termo neurose para designar uma doença que não
é acompanhada de febre ou patologia localizada. Ele preparou o
caminho para o surgimento da psiquiatria como ramo científico, no
séc. XIX.
Phillip Pinel (1745-1826) é quem lança os fundamentos de uma
psiquiatria científica. Ele acreditava que o ambiente social influenciava para o
surgimento da doença. Achava que a loucura deveria ser tratada e vista como
um problema da sociedade.
Maureau de Tours (discípulo de Esquirol), dizia que delírio e sonho são
absolutamente idênticos. “Sonhar é psicopatologia transitória de pessoa
normal”
A hipnose é uma técnica introduzida por James Braid (segunda metade
do sécXIX) como um meio de controle de uma pessoa sobre a outra.
Sobre a religião e a medicina da época:
No fim do XVIII e início do XIX, a noção de riqueza de uma nação vai estar
fundamentalmente relacionada com a qualidade de sua população. O século XIX tem
instituições sanitárias (saúde pública e medicina social) e pedagógicas (escolarização
obrigatória) que garantem a qualidade da população, diferentemente do século anterior
onde os recursos naturais e o território eram o foco de atenção das políticas de poder.
Sendo a população o grande objeto de cuidados do Estado Moderno, a
reprodução, o sexo enquanto meio de reprodução, se torna tema central. O
cuidado com as crianças e sua saúde é, então, responsabilidade da mãe.
Portanto, o papel da mulher, sua saúde e o bom desenvolvimento das crianças
evoluem com a ginecologia, a obstetrícia e a pediatria.
Foi escutando as histéricas e positivando seu discurso, que Freud situou
os impasses produzidos pelo discurso anátomo-clínico. Nas histéricas a
manifestação sintomática não se reduzia a materialidade de uma lesão
anatômica. As histéricas eram vistas como mentirosas que inventavam
doenças inexistentes.
Freud destacou a dimensão de verdade inserida nas estruturas psicopatológicas e
rompeu, definitivamente, com a tradição psiquiátrica baseada no cartesianismo, na qual a
loucura era identificada com a desrazão. A cena histérica trazia os fantasmas sexuais
inconscientes. A categoria de inconsciente seria justamente a materialização do
descentramento do sujeito moderno.
A metapsicologia freudiana é um estudo do que está para além da
consciência, o inconsciente.
ICS: processos primários, energia livre
CS: processos secundários energia ligada
.4- Modernidade e interpretação
Psicanálise: metapsicologia
A psicanálise se instituiu como saber fazendo crítica ao discurso médico, que desde o
início do séc. XIX procurava ligar os sintomas das doenças às possíveis lesões existentes na
estrutura anatômica do corpo. A medicina clínica se fundava no discurso da anatomia patológica.
&n bsp;As formas de interpretação sofreram mudanças na tradição do
conhecimento ocidental. Na modernidade se instaura uma nova forma de
pensamento inaugurada por René Descartes (1596-1650), que postulava o
homem com sendo o centro detentor do saber, partindo do princípio de que para
que o conhecimento fosse verdadeiro, esse deveria possuir uma fundamentação
metafísica. Como se sabe, o cogito é a fundação da idéia moderna de uma
autoconsciência do sujeito. A tradição que daí decorre terá homem como medida
do conhecimento. O antropocentrismo será, portanto a marca do pensamento
moderno.
Podemos vislumbrar na obra de Freud, principalmente, na “Interpretação dos
Sonhos” tanto a soberania da consciência como a queda desse ideal, através do umbigo do
sonho. Queremos apenas apontar com isso, que a psicanálise, por meio de uma
de suas principais obras, pode ser vista como sintoma da modernidade.
Como afirma Michel Foucault: “Cada forma cultural da civilização ocidental teve
seu sistema de interpretação, as suas técnicas, os seus métodos, as suas formas próprias de
suspeitar que a linguagem quer dizer algo diferente do que diz, e entrever que há linguagens
dentro de uma mesma linguagem.” Nessa perspectiva, Freud pode ser considerado um autor
moderno e ao mesmo tempo crítico da modernidade, pois bem sabemos que sua obra se
produziu em cima de conceitos que oscilavam entre o que é arbitrário (traumático) e o que é
passível de apreensão (representável). Um exemplo disso são as diferentes concepções de
pulsão( de vida e de morte).
Sigmund Freud (1856-1939)
é o fundador da Psicanálise
Nasceu a 6 de maio de 1856, em Freiberg, Moravia.
(atualmente Pribor, República Checa),
Estudou em Viena. Foi aluno do fisiólogo Brücke.
Licenciou-se em Medicina em 1881.
De 1885-86, foi aluno de Charcot, em Paris. Charcot
trabalhava no asilo de Salpetriére e chamou a atenção da
comunidade médica ao adoptar a hipnose como técnica
terapêutica.
Em 1887, estuda as doenças nervosas e introduz a hipnose
na sua prática clínica.
De 1893-96, trabalha com Josef Breuer em casos clínicos
como o de “Anna O”. Como resultado deste trabalho,
surge a obra, de 1895, escrita em parceria com Breuer,
“Estudos sobre a histeria”.
Biografia de Freud
Biografia de Freud
No ano seguinte, em 1876, Freud emprega
pela primeira vez o termo “Psicanálise”.
Em 1897 Freud começa a sua auto-análise
(que foi muito importante para o
desenvolvimento das teorias psicanalíticas).
Nesse mesmo ano, rompe com a teoria
traumática da neurose, de Breuer. Datam desta
altura o reconhecimento da sexualidade
infantil e do complexo de Édipo.
Em 1900 publica a sua obra mais conhecida e,
seguramente, a mais importante para o autor:
“A interpretação dos sonhos”.
Biografia de Freud
O ano de 1923 fica marcado pelo fato de ter
sido diagnosticado a um câncro na cavidade
bucal, considerado incurável e extremamente
agressivo. Até à sua morte será submetido a um
total impressionante de 33 cirúrgias. Apesar das
dores constantes e de ter que usar uma prótese
no maxilar superior, Freud manteve-se activo e
continuou a sua actividade de clínico e
investigador.
Em 1933, em Berlim, os livros de Freud são
queimados, na sequência da subida dos nazis ao
poder. A psicanálise é banida porque Freud é
Judeu e porque contradiz o totalitarismo.
Em 1938 abandona Viena e regugia-se em
Inglaterra, na sequência da anexação da Austria
pela Alemanha nazi.
Freud morre em Londres no dia 23 de Setembro
de 1939.
A Psicanálise
caractezia-se como uma corrente da
Psicologia que busca o fundamento oculto
dos comportamentos e dos processos
mentais, com o objectiv
o
de descobrir e
resolver os conflitos intra-psíquicos
geradores de sofrimento psíquico.
Trata-se, ao mesmo tempo, de uma disciplina
científica que visa descobrir e mapear as
estruturas da Psique e de um método
terapêutico , assente numa relação
profunda entre o psicanalista e o paciente.
Outra descoberta importante é a de que a nossa mente
consciente não controla todos os nossos
comportamentos
Mesmo os nossos tos voluntários, resultantes de
uma deliberação racional, estão dependentes de
uma fonte motivacional inconsciente...
A descoberta
do inconsciente
trouxe uma
revolução à
Psicologia e à
forma como esta
encara o ser
humano
O desejo e a insatisfação são
elementos inerentes à nossa vida
psíquica.
Todos os nossos comportamentos
resultam duma fonte energética
inesgotável e cuja manifestação
assume múltiplas formas...
Trata-se do núcleo instintivo que dá
vida à nossa Psique, constituído por
duas polarizações antagónicas:
A Líbido, o desejo sexual, a que
Freud deu o nome de Eros.
E o impulso de morte, ligado à
agressividade (auto e hetero dirigida),
a que Freud deu o nome de
Thanatos.
A nossa infância “persegue-nos” ao londo de toda a nossa vida, uma vez
que é nesse período que a nossa personalidade se desenvolve.
Ao longo da infância o inconsciente vai dividir-se e dar origem às outras
instâncias da Psique.
Por isso passamos por períodos de crise, de ruptura e de reconfiguração
das nossas estruturas psíquicas. Por esta razão estamos sujeitos a traumas
e a conflitos intra-psíquicos que ficam guardados no inconsciente e marcam
a forma como nos relacionamos connosco mesmos e com os outros.
O Inconsciente
corresponde aos conteúdos
instintivos, hereditários,
da mente, bem como aos
conteúdos recalcados ao
longo da história de vida do
indivíduo.
O Inconsciente não esquece nada,
todos os incidentes da história de
vida do indivíduo ficam aí retidos e
guardam a mesma força e vivacidade
do momento em que foram vividos.
O Inconsciente é imune ao tempo.
Os processos que estão na origem das neuroses,
são idênticos aos que servem de fundamento à
vida psíquica saudável, pelo que é possível usá-los
para conduzir os pacientes à solução dos seus
conflitos psíquicos.
E esses conflitos marcam a nossa
personalidade e tornam-nos únicos.
Por isso a Psicanálise assenta na análise
das mensagens que o inconsciente dos
pacientes envia à consciência, através dos
sonhos, dos actos falhados, das fobias e
dos desvios comportamentais.
A estrutura da Psique
Consciente
Pré-
consciente
Inconsciente
A estrutura da Psique
O Consciente corresponde à dimensão racional da Psique. Ao nível do
Consciente tomamos conhecimento da realidade exterior e, também, dos
nossos conteúdos mentais não recalcados ao nível do inconsciente. Ao longo
da história do Ocidente, os filósofos e os investigadores da mente (a partir do
século XIX, designados como psicólogos), tomaram esta dimensão da Psique
como a mais importante e, até, em muitos casos, a encararam como a própria
mente.
Freud defendeu que a consciência abarca apenas uma dimensão da Psique.
O Inconsciente é, então, a mais importante instância da Psique, e a mais
vasta. É aí que está a chave para a interpretação do sentido de todos os
nossos comportamentos e, em geral, da nossa vida psíquica.
Entre o Consciente e o Inconsciente, existe uma antecâmara, o Pré-
consciente, que permite que alguns conteúdos do Inconsciente acedam à
consciência, mas “travestidos”, “disfarçados”, por forma a evitar distúrbios ao
nível do Consciente. Assim, os conteúdos de origem libidinal, ligados ao instinto
sexual, podem aceder à consciência sob uma forma simbólica, não geradora de
tensão.
A estrutura da Psique
Mas, para além disso, existe um
mecanismo de segurança que
impede que os conteúdos
ameaçadores da sanidade
mental e da sobrevivência física
ou social do indivíduo acedam à
consciência: trata-se da Barreira
da Censura que é responsável
pelo recalcamento desses
conteúdos perigosos.
Esta instância daria lugar aos
mecanismos de defesa do Ego,
quando Freud desenvolveu a
sua teoria psicanalítica.
A estrutura da Psique.............a segunda tópica
O ID
O id (isso) é o termo usado para designar uma das três
instâncias apresentada na segunda tópica das obras de Freud.
Possui equivalência topográfica com o inconsciente da primeira
tópica embora, no decorrer da obra de Freud, os dois conceitos:
id e inconsciente apresentem sentidos diferenciados.
Constitui o reservatório da energia psíquica, onde se "localizam"
as pulsões. Faz parte do aparelho psíquico da psicanálise
freudiana de que ainda fazem parte o ego (eu) e o superego
(Super-eu).
Formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos
inconscientes e regido pelo princípio do prazer, que exige
satisfação imediata. É a energia dos instintos e dos desejos em
busca da realização desse princípio do prazer. É a libido.
O
E
G
O
O Ego é a soma total dos pensamentos, ideias, sentimentos, lembranças e
percepções sensoriais. É a parte mais superficial do indivíduo (da Psique), a
qual tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante
selecção e controlo, de parte dos desejos e exigências procedentes dos
impulsos que emanam do id. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à
necessidade de encontrar objectos que possam satisfazer o id sem
transgredir as exigências do superego. Quando o Ego submete-se ao id,
torna-se imoral e destrutivo; ao se submeter ao superego, enlouquece de
desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter
ao mundo, será destruído por ele. Para Jung, o Ego é um complexo; o
“complexo do Ego”. Diz ele, sobre o Ego: “É um dado complexo formado
primeiramente por uma percepção geral do nosso corpo e existência e, a
seguir, pelos registos da nossa memória.”
O Superego
É inconsciente, é a censura das pulsões que a sociedade e a cultura impõem ao id,
impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e desejos. É a repressão,
particularmente, a repressão sexual. Manifesta-se à consciência indirectamente, sob
forma da moral, como um conjunto de interdições e deveres, e por meio da
educação, pela produção do "eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa.
O
Superego
Consciente:
Princípio da Realidade
Imperativos Morais
Contacto com o mundo exterior
Pré-Consciente:
Material sob a superfície
da consciência
Princípio do Prazer
Inconsciente:
Material muito abaixo
da superfície da
consciência.
Não pode ser directamente
acedido (pela
consciência).
Freud - Teoria da
motivação
1. Todas as nossas motivações são pulsionais;
2. A pulsão é uma força ou energia que tem como fonte uma tensão
orgânica contínua e como objectivo a descarga da tensão acumulada.
3. A líbido (desejo sexual) é a principal manifestação da energia pulsional,
pelo quedesempenha um papel preponderante nos nossos
comportamentos;
4. A não libertação das energias pulsionais acumuladas (na maior
parte das vezes pela intervenção do superego) gera conflitos
intrapsíquicos que conduzem à ansiedade e à neurose.
5. Se a saída normal (para a libertação dessas energias) estiver
bloqueada, a libertação tenderá a realizar-se por outras vias;
6. Existe um conjunto de mecanismos de defesa do ego que permitem
resolver os conflitos intrapsíquicos, garantindo o equilíbrio psíquico do
indivíduo.
Foto de Amy Archer
Os
mecanismos
de defesa
do ego
São estratégias inconscientes de
resolução de conflitos intra-psíquicos e
da redução das energias pulsionais que
estão na sua origem.
Foto de Thomas Wiemer
Recalcamento – Mecanismo de repressão de pensamentos, recordações,
sentimentos, pulsões e desejos que, por provocarem ansiedade e porem em causa o
equilíbrio intra-psíquico, são excluídos da consciência e mantidos no inconsciente.
Racionalização (ou intelectualização) – É um conjunto de estratégias de
justificação de comportamentos, pensamentos, tendências psíquicas, lógicas e formuladas
a posteriori, com o fim de evitar sentimentos de inferioridade que ponham em risco a auto-
estima.
Projecção – Tendência que os seres humanos têm para atribuir aos outros,
comportamentos, sentimentos e desejos que, sendo deles próprios, são muitas vezes tidos
como inaceitáveis.
Foto de Chutney Bannister
Deslocamento – Mecanismo
libertador que ocorre quando um indivíduo, não
podendo atingir determinado objecto, o
substitui por outro, sobre o qual descarrega as
suas tensões acumuladas.
Regressão – Mecanismo segundo o qual
o indivíduo adopta formas de conduta próprias
de estádios anteriores de desenvolvimentos
(em que o indivíduo se sentia em segurança)..
Compensação (ou formação reactiva) – Mecanismo de defesa contra
qualquer tipo de inferioridade fisiológica ou psicológica, seja ela real ou não, que consiste na
adopção de comportamentos contrários ao desejo.
Sublimação – Mecanismo que consiste uma actividade social e moralmente
inaceitável por outra, moral e socialmente aceitável..
O desenvolvimento da
personalidade
A noção de estádio está inseparavelmente ligada à
concepção de Freud de aparelho psíquico e do seu
funcionamento — funcionamento normal e sobretudo
patológico, e do seu desenvolvimento no tempo ao nível do
indivíduo e também ao nível da espécie.
Nesta perspectiva, Freud encontra duas premissas essenciais
à Psicanálise, isto é, dá como adquirido a
existência de um inconsciente e de uma sexualidade.
Baseado nestas premissas elaborou então três períodos,
subdivididos em cinco estádios de desenvolvimento psico-
sexual.
1º período ( 0-5 anos)
● Fase oral (0-2 anos)
● Fase anal (2-3 anos)
● Fase fálica (3-5 anos)
2º período (6-13 anos)
● Fase de latência
3º período (13-... anos)
● Fase genital
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História da psicanálise

  • 1. AS RAÍZES HISTÓRICAS E FILOSÓFICAS DA PSICANÁLISE. Programa de Pós Graduação em Filosofia – UFMA Professor: Dr. Felipe Teles
  • 2. 1-Contexto histórico-filosófico Podemos considerar o pensamento moderno (séc. XVII / XVIII Iluminismo) como sendo caracterizado por sua ruptura com o pensamento medieval (séc.V até séc. XV). Valoriza o indivíduo, a consciência, a subjetividade, a experiência e a atividade crítica, em oposição às instituições, à hierarquia, ao sistema e à aceitação dos dogmas e verdades estabelecidas, que caracterizam a ordem social medieval. Situando historicamente: Desenvolvimento da economia mercantilista, o descobrimento do Novo Mundo, as grandes navegações, a Reforma protestante, as novas teorias científicas no campo da física e da astronomia (Galileu e Copérnico), são fatos que ocorrem em torno dos sécs XV a XVII e marcam uma visão de mundo que se contrapõe à visão medieval, caracterizando, assim, o surgimento do mundo moderno -Modernidade: Nova forma de pensamento e de visão de mundo inaugurada pelo Renascimento e que se contrapõe ao espírito medieval, desenvolvendo-se nos sécs. XVI e XVII com Francis Bacon, Galileu e Descartes, dentre outros, até o Iluminismo do séc.XVII, do qual é a principal expressão
  • 3. - René Descartes1[1] (1596-1650) XVI e XVII França A dúvida metódica: Se eu duvido de tudo o que me vem pelos sentidos, e se duvido até mesmo das verdades matemáticas, não posso duvidar de que tenho consciência de duvidar, portanto de que existo enquanto tenho essa consciência. Sua filosofia parte da presença do pensamento e não da presença do mundo. Descartes afirma a universalidade da consciência. Galileo Galilei (1564-1642) (Renascimento) nos mostrou que a nossa percepção a olho nu pode nos enganar (defendendo as idéias de Copérnico1473-1543), de que a Terra gira em torno do sol, golpe no antropocentrismo), que a Natureza escreve em linguagem matemática. A partir da idéia de que a percepção pode nos enganar, nos iludir, Descartes desenvolve a idéia de que nossa única certeza é o pensamento e todos os outros processos eram funções do corpo. Desse modo ele introduz uma dualidade físico/psicológica que desvia a atenção do conceito abstrato de alma para o estudo da mente e suas operações. Como resultado, os métodos de pesquisa deixaram a análise metafísica e abraçaram a observação objetiva. Com Descartes temos a idéia de mecanismo aplicada ao corpo humano. A filosofia mecanicista era de uma influência tão grande que foi só uma questão de tempo para que fosse aplicada também à mente humana.
  • 4. Sendo assim, foi Descartes que abriu um campo que possibilitou o surgimento dos estudos sobre os mecanismos da mente. Se na Idade Média o conhecimento era concebido de maneira totalizadora e totalizante, onde a separação sujeito-objeto não era considerada, será, principalmente, a partir de Descartes que o objeto do conhecimento poderá ser decomposto e representado. 2-A doença mental no séc. XIX Foi a visão cartesiana (séc XVII) de mundo que impôs a oposição entre razão e desrazão. Para Descartes não havia um pensamento louco, mas sim um homem louco. Portanto, o que distingue o homem do animal é a racionalidade. Loucos eram vistos como animais a serem domados.Foucault nos diz que a loucura é uma produção do séc. XVIII (Inglaterra-1798), através dos seus saberes, suas práticas e suas instituições.
  • 5. No séc.XIX a medicina tenta diferenciar a loucura da simulação. A principal busca dos médicos era por uma lesão anatômica que explicasse a doença. William Cullen (séc. XVIII) classificou as doenças mentais e foi o primeiro a utilizar o termo neurose para designar uma doença que não é acompanhada de febre ou patologia localizada. Ele preparou o caminho para o surgimento da psiquiatria como ramo científico, no séc. XIX. Phillip Pinel (1745-1826) é quem lança os fundamentos de uma psiquiatria científica. Ele acreditava que o ambiente social influenciava para o surgimento da doença. Achava que a loucura deveria ser tratada e vista como um problema da sociedade. Maureau de Tours (discípulo de Esquirol), dizia que delírio e sonho são absolutamente idênticos. “Sonhar é psicopatologia transitória de pessoa normal” A hipnose é uma técnica introduzida por James Braid (segunda metade do sécXIX) como um meio de controle de uma pessoa sobre a outra.
  • 6. Sobre a religião e a medicina da época: No fim do XVIII e início do XIX, a noção de riqueza de uma nação vai estar fundamentalmente relacionada com a qualidade de sua população. O século XIX tem instituições sanitárias (saúde pública e medicina social) e pedagógicas (escolarização obrigatória) que garantem a qualidade da população, diferentemente do século anterior onde os recursos naturais e o território eram o foco de atenção das políticas de poder. Sendo a população o grande objeto de cuidados do Estado Moderno, a reprodução, o sexo enquanto meio de reprodução, se torna tema central. O cuidado com as crianças e sua saúde é, então, responsabilidade da mãe. Portanto, o papel da mulher, sua saúde e o bom desenvolvimento das crianças evoluem com a ginecologia, a obstetrícia e a pediatria. Foi escutando as histéricas e positivando seu discurso, que Freud situou os impasses produzidos pelo discurso anátomo-clínico. Nas histéricas a manifestação sintomática não se reduzia a materialidade de uma lesão anatômica. As histéricas eram vistas como mentirosas que inventavam doenças inexistentes. Freud destacou a dimensão de verdade inserida nas estruturas psicopatológicas e rompeu, definitivamente, com a tradição psiquiátrica baseada no cartesianismo, na qual a loucura era identificada com a desrazão. A cena histérica trazia os fantasmas sexuais inconscientes. A categoria de inconsciente seria justamente a materialização do descentramento do sujeito moderno. A metapsicologia freudiana é um estudo do que está para além da consciência, o inconsciente. ICS: processos primários, energia livre CS: processos secundários energia ligada .4- Modernidade e interpretação
  • 7. Psicanálise: metapsicologia A psicanálise se instituiu como saber fazendo crítica ao discurso médico, que desde o início do séc. XIX procurava ligar os sintomas das doenças às possíveis lesões existentes na estrutura anatômica do corpo. A medicina clínica se fundava no discurso da anatomia patológica. &n bsp;As formas de interpretação sofreram mudanças na tradição do conhecimento ocidental. Na modernidade se instaura uma nova forma de pensamento inaugurada por René Descartes (1596-1650), que postulava o homem com sendo o centro detentor do saber, partindo do princípio de que para que o conhecimento fosse verdadeiro, esse deveria possuir uma fundamentação metafísica. Como se sabe, o cogito é a fundação da idéia moderna de uma autoconsciência do sujeito. A tradição que daí decorre terá homem como medida do conhecimento. O antropocentrismo será, portanto a marca do pensamento moderno.
  • 8. Podemos vislumbrar na obra de Freud, principalmente, na “Interpretação dos Sonhos” tanto a soberania da consciência como a queda desse ideal, através do umbigo do sonho. Queremos apenas apontar com isso, que a psicanálise, por meio de uma de suas principais obras, pode ser vista como sintoma da modernidade. Como afirma Michel Foucault: “Cada forma cultural da civilização ocidental teve seu sistema de interpretação, as suas técnicas, os seus métodos, as suas formas próprias de suspeitar que a linguagem quer dizer algo diferente do que diz, e entrever que há linguagens dentro de uma mesma linguagem.” Nessa perspectiva, Freud pode ser considerado um autor moderno e ao mesmo tempo crítico da modernidade, pois bem sabemos que sua obra se produziu em cima de conceitos que oscilavam entre o que é arbitrário (traumático) e o que é passível de apreensão (representável). Um exemplo disso são as diferentes concepções de pulsão( de vida e de morte).
  • 9. Sigmund Freud (1856-1939) é o fundador da Psicanálise
  • 10. Nasceu a 6 de maio de 1856, em Freiberg, Moravia. (atualmente Pribor, República Checa), Estudou em Viena. Foi aluno do fisiólogo Brücke. Licenciou-se em Medicina em 1881. De 1885-86, foi aluno de Charcot, em Paris. Charcot trabalhava no asilo de Salpetriére e chamou a atenção da comunidade médica ao adoptar a hipnose como técnica terapêutica. Em 1887, estuda as doenças nervosas e introduz a hipnose na sua prática clínica. De 1893-96, trabalha com Josef Breuer em casos clínicos como o de “Anna O”. Como resultado deste trabalho, surge a obra, de 1895, escrita em parceria com Breuer, “Estudos sobre a histeria”. Biografia de Freud
  • 11. Biografia de Freud No ano seguinte, em 1876, Freud emprega pela primeira vez o termo “Psicanálise”. Em 1897 Freud começa a sua auto-análise (que foi muito importante para o desenvolvimento das teorias psicanalíticas). Nesse mesmo ano, rompe com a teoria traumática da neurose, de Breuer. Datam desta altura o reconhecimento da sexualidade infantil e do complexo de Édipo. Em 1900 publica a sua obra mais conhecida e, seguramente, a mais importante para o autor: “A interpretação dos sonhos”.
  • 12. Biografia de Freud O ano de 1923 fica marcado pelo fato de ter sido diagnosticado a um câncro na cavidade bucal, considerado incurável e extremamente agressivo. Até à sua morte será submetido a um total impressionante de 33 cirúrgias. Apesar das dores constantes e de ter que usar uma prótese no maxilar superior, Freud manteve-se activo e continuou a sua actividade de clínico e investigador. Em 1933, em Berlim, os livros de Freud são queimados, na sequência da subida dos nazis ao poder. A psicanálise é banida porque Freud é Judeu e porque contradiz o totalitarismo. Em 1938 abandona Viena e regugia-se em Inglaterra, na sequência da anexação da Austria pela Alemanha nazi. Freud morre em Londres no dia 23 de Setembro de 1939.
  • 13. A Psicanálise caractezia-se como uma corrente da Psicologia que busca o fundamento oculto dos comportamentos e dos processos mentais, com o objectiv o de descobrir e resolver os conflitos intra-psíquicos geradores de sofrimento psíquico. Trata-se, ao mesmo tempo, de uma disciplina científica que visa descobrir e mapear as estruturas da Psique e de um método terapêutico , assente numa relação profunda entre o psicanalista e o paciente.
  • 14. Outra descoberta importante é a de que a nossa mente consciente não controla todos os nossos comportamentos Mesmo os nossos tos voluntários, resultantes de uma deliberação racional, estão dependentes de uma fonte motivacional inconsciente...
  • 15. A descoberta do inconsciente trouxe uma revolução à Psicologia e à forma como esta encara o ser humano
  • 16. O desejo e a insatisfação são elementos inerentes à nossa vida psíquica. Todos os nossos comportamentos resultam duma fonte energética inesgotável e cuja manifestação assume múltiplas formas... Trata-se do núcleo instintivo que dá vida à nossa Psique, constituído por duas polarizações antagónicas: A Líbido, o desejo sexual, a que Freud deu o nome de Eros. E o impulso de morte, ligado à agressividade (auto e hetero dirigida), a que Freud deu o nome de Thanatos.
  • 17. A nossa infância “persegue-nos” ao londo de toda a nossa vida, uma vez que é nesse período que a nossa personalidade se desenvolve. Ao longo da infância o inconsciente vai dividir-se e dar origem às outras instâncias da Psique. Por isso passamos por períodos de crise, de ruptura e de reconfiguração das nossas estruturas psíquicas. Por esta razão estamos sujeitos a traumas e a conflitos intra-psíquicos que ficam guardados no inconsciente e marcam a forma como nos relacionamos connosco mesmos e com os outros.
  • 18. O Inconsciente corresponde aos conteúdos instintivos, hereditários, da mente, bem como aos conteúdos recalcados ao longo da história de vida do indivíduo.
  • 19. O Inconsciente não esquece nada, todos os incidentes da história de vida do indivíduo ficam aí retidos e guardam a mesma força e vivacidade do momento em que foram vividos. O Inconsciente é imune ao tempo.
  • 20. Os processos que estão na origem das neuroses, são idênticos aos que servem de fundamento à vida psíquica saudável, pelo que é possível usá-los para conduzir os pacientes à solução dos seus conflitos psíquicos.
  • 21. E esses conflitos marcam a nossa personalidade e tornam-nos únicos. Por isso a Psicanálise assenta na análise das mensagens que o inconsciente dos pacientes envia à consciência, através dos sonhos, dos actos falhados, das fobias e dos desvios comportamentais.
  • 22. A estrutura da Psique Consciente Pré- consciente Inconsciente
  • 23. A estrutura da Psique O Consciente corresponde à dimensão racional da Psique. Ao nível do Consciente tomamos conhecimento da realidade exterior e, também, dos nossos conteúdos mentais não recalcados ao nível do inconsciente. Ao longo da história do Ocidente, os filósofos e os investigadores da mente (a partir do século XIX, designados como psicólogos), tomaram esta dimensão da Psique como a mais importante e, até, em muitos casos, a encararam como a própria mente. Freud defendeu que a consciência abarca apenas uma dimensão da Psique. O Inconsciente é, então, a mais importante instância da Psique, e a mais vasta. É aí que está a chave para a interpretação do sentido de todos os nossos comportamentos e, em geral, da nossa vida psíquica. Entre o Consciente e o Inconsciente, existe uma antecâmara, o Pré- consciente, que permite que alguns conteúdos do Inconsciente acedam à consciência, mas “travestidos”, “disfarçados”, por forma a evitar distúrbios ao nível do Consciente. Assim, os conteúdos de origem libidinal, ligados ao instinto sexual, podem aceder à consciência sob uma forma simbólica, não geradora de tensão.
  • 24. A estrutura da Psique Mas, para além disso, existe um mecanismo de segurança que impede que os conteúdos ameaçadores da sanidade mental e da sobrevivência física ou social do indivíduo acedam à consciência: trata-se da Barreira da Censura que é responsável pelo recalcamento desses conteúdos perigosos. Esta instância daria lugar aos mecanismos de defesa do Ego, quando Freud desenvolveu a sua teoria psicanalítica.
  • 25. A estrutura da Psique.............a segunda tópica O ID
  • 26. O id (isso) é o termo usado para designar uma das três instâncias apresentada na segunda tópica das obras de Freud. Possui equivalência topográfica com o inconsciente da primeira tópica embora, no decorrer da obra de Freud, os dois conceitos: id e inconsciente apresentem sentidos diferenciados. Constitui o reservatório da energia psíquica, onde se "localizam" as pulsões. Faz parte do aparelho psíquico da psicanálise freudiana de que ainda fazem parte o ego (eu) e o superego (Super-eu). Formado por instintos, impulsos orgânicos e desejos inconscientes e regido pelo princípio do prazer, que exige satisfação imediata. É a energia dos instintos e dos desejos em busca da realização desse princípio do prazer. É a libido.
  • 28. O Ego é a soma total dos pensamentos, ideias, sentimentos, lembranças e percepções sensoriais. É a parte mais superficial do indivíduo (da Psique), a qual tem por funções a comprovação da realidade e a aceitação, mediante selecção e controlo, de parte dos desejos e exigências procedentes dos impulsos que emanam do id. Obedece ao princípio da realidade, ou seja, à necessidade de encontrar objectos que possam satisfazer o id sem transgredir as exigências do superego. Quando o Ego submete-se ao id, torna-se imoral e destrutivo; ao se submeter ao superego, enlouquece de desespero, pois viverá numa insatisfação insuportável; se não se submeter ao mundo, será destruído por ele. Para Jung, o Ego é um complexo; o “complexo do Ego”. Diz ele, sobre o Ego: “É um dado complexo formado primeiramente por uma percepção geral do nosso corpo e existência e, a seguir, pelos registos da nossa memória.”
  • 30. É inconsciente, é a censura das pulsões que a sociedade e a cultura impõem ao id, impedindo-o de satisfazer plenamente os seus instintos e desejos. É a repressão, particularmente, a repressão sexual. Manifesta-se à consciência indirectamente, sob forma da moral, como um conjunto de interdições e deveres, e por meio da educação, pela produção do "eu ideal", isto é, da pessoa moral, boa e virtuosa. O Superego
  • 31. Consciente: Princípio da Realidade Imperativos Morais Contacto com o mundo exterior Pré-Consciente: Material sob a superfície da consciência Princípio do Prazer Inconsciente: Material muito abaixo da superfície da consciência. Não pode ser directamente acedido (pela consciência).
  • 32. Freud - Teoria da motivação 1. Todas as nossas motivações são pulsionais; 2. A pulsão é uma força ou energia que tem como fonte uma tensão orgânica contínua e como objectivo a descarga da tensão acumulada. 3. A líbido (desejo sexual) é a principal manifestação da energia pulsional, pelo quedesempenha um papel preponderante nos nossos comportamentos; 4. A não libertação das energias pulsionais acumuladas (na maior parte das vezes pela intervenção do superego) gera conflitos intrapsíquicos que conduzem à ansiedade e à neurose. 5. Se a saída normal (para a libertação dessas energias) estiver bloqueada, a libertação tenderá a realizar-se por outras vias; 6. Existe um conjunto de mecanismos de defesa do ego que permitem resolver os conflitos intrapsíquicos, garantindo o equilíbrio psíquico do indivíduo.
  • 33. Foto de Amy Archer Os mecanismos de defesa do ego São estratégias inconscientes de resolução de conflitos intra-psíquicos e da redução das energias pulsionais que estão na sua origem.
  • 34. Foto de Thomas Wiemer Recalcamento – Mecanismo de repressão de pensamentos, recordações, sentimentos, pulsões e desejos que, por provocarem ansiedade e porem em causa o equilíbrio intra-psíquico, são excluídos da consciência e mantidos no inconsciente. Racionalização (ou intelectualização) – É um conjunto de estratégias de justificação de comportamentos, pensamentos, tendências psíquicas, lógicas e formuladas a posteriori, com o fim de evitar sentimentos de inferioridade que ponham em risco a auto- estima. Projecção – Tendência que os seres humanos têm para atribuir aos outros, comportamentos, sentimentos e desejos que, sendo deles próprios, são muitas vezes tidos como inaceitáveis.
  • 35. Foto de Chutney Bannister Deslocamento – Mecanismo libertador que ocorre quando um indivíduo, não podendo atingir determinado objecto, o substitui por outro, sobre o qual descarrega as suas tensões acumuladas. Regressão – Mecanismo segundo o qual o indivíduo adopta formas de conduta próprias de estádios anteriores de desenvolvimentos (em que o indivíduo se sentia em segurança).. Compensação (ou formação reactiva) – Mecanismo de defesa contra qualquer tipo de inferioridade fisiológica ou psicológica, seja ela real ou não, que consiste na adopção de comportamentos contrários ao desejo. Sublimação – Mecanismo que consiste uma actividade social e moralmente inaceitável por outra, moral e socialmente aceitável..
  • 36. O desenvolvimento da personalidade A noção de estádio está inseparavelmente ligada à concepção de Freud de aparelho psíquico e do seu funcionamento — funcionamento normal e sobretudo patológico, e do seu desenvolvimento no tempo ao nível do indivíduo e também ao nível da espécie. Nesta perspectiva, Freud encontra duas premissas essenciais à Psicanálise, isto é, dá como adquirido a existência de um inconsciente e de uma sexualidade. Baseado nestas premissas elaborou então três períodos, subdivididos em cinco estádios de desenvolvimento psico- sexual. 1º período ( 0-5 anos) ● Fase oral (0-2 anos) ● Fase anal (2-3 anos) ● Fase fálica (3-5 anos) 2º período (6-13 anos) ● Fase de latência 3º período (13-... anos) ● Fase genital