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História e Evolução da
Psicologia
A evolução chega aos Estados Unidos:
Herbert Spencer (1820-1903)
 A filosofia que rendeu a Herbert Spencer o reconhecimento e a aclamação foi o darwinismo —
a noção da evolução e da sobrevivência do mais apto. Spencer estendeu a teoria para muito
além do próprio trabalho de Darwin.
 Darwinismo social  Spencer alegava que o desenvolvimento de todos os aspectos do
universo é evolucionário, incluindo o caráter humano e as instituições sociais, em
conformidade com o princípio da “sobrevivência do mais apto” (expressão cunhada por ele).
Essa ênfase no chamado darwinismo social — aplicação da teoria da evolução da natureza
humana e da sociedade — foi recebida com muito entusiasmo nos Estados Unidos.
 Na visão utópica de Spencer, se o princípio da sobrevivência do mais apto operasse com
liberdade, apenas os melhores sobreviveriam. Portanto, a perfeição humana seria inevitável,
desde que nenhuma ação interferisse na ordem natural das coisas. O individualismo e o
sistema econômico do laissez-faire eram vitais, enquanto os aspectos governamentais para
regulamentar negócios e indústria e a assistência social (por meio de subsídios a educação,
moradia e pobreza) eram opostos.
 A população e as organizações deveriam ter liberdade para se desenvolver com autonomia,
valendo-se de meios próprios, do mesmo modo que as demais espécies vivas se desenvolviam e
adaptavam-se livremente ao ambiente natural. Qualquer auxílio do Estado interferiria no
processo evolutivo natural.
A evolução chega aos Estados
Unidos:
Herbert Spencer (1820-1903)
 Para Spencer, pessoas, programas, economia ou instituições que não se adaptassem eram
considerados inaptos para sobreviver e deviam perecer (tornarem-se “extintos”) para a
melhoria de toda a sociedade. Se o Estado continuasse a sustentar empresas que não
funcionassem bem, elas conseguiriam sobreviver, mas acabariam enfraquecendo a sociedade,
violando a lei básica natural de que apenas o mais forte e mais apto deve sobreviver. Mais
uma vez, a ideia de Spencer era que somente com a sobrevivência dos melhores a sociedade
atingiria a perfeição.
 Essa mensagem era compatível com o espírito individualista norte- -americano, e as
expressões “sobrevivência do mais apto” e “a luta pela existência” rapidamente passaram a
fazer parte da consciência nacional.
 Os norte-americanos eram voltados ao prático, útil e funcional. Os estágios iniciais da
psicologia norte-americana refletiram essas qualidades. Por essa razão, a teoria
evolucionista foi mais bem-aceita nos Estados Unidos do que em outras nações. A psicologia
norte-americana transformou-se em uma psicologia funcional, porque a evolução e o espírito
funcional eram compatíveis com esse temperamento básico. Os pontos de vista de Spencer eram
compatíveis com o ethos (modo de ser) norte-americano, daí o motivo pelo qual o sistema
filosófico dele influenciou todos os campos do conhecimento.
Funcionalismo
William James (1842-1910)
 O pioneiro da Psicologia Funcional desenvolvida nos Estados Unidos foi o americano William
James (1842-1910) que, segundo pesquisa realizada 80 anos após sua morte, perdia prestigio
apenas para Wilhelm Wundt. Mas sua importância perdia um pouco de brilho, devido ao seu
interesse por assuntos místicos como telepatia, clarividência, espiritismo e comunicação
com os mortos. Tinha verdadeira aversão pelo método de experimentação em psicologia e pouco
trabalho realizou nessa área.
 James não fundou nenhuma corrente de pensamento ou escola de psicologia nova, sua atitude
de pesquisador não tinha nada de experimentalista, como queriam fazer parecer associando
sua forma de psicologia à forma da psicologia experimental. Ele não fundou a psicologia
funcional, mas apresentou de forma clara e eficaz as suas ideias dentro da atmosfera
funcionalista impregnada na psicologia americana, influenciando o movimento funcionalista e
inspirando as gerações posteriores de psicólogos.
 Com isso, influenciou o movimento e diversos psicólogos que chegaram nas décadas seguintes.
A corrente acaba sendo reconhecida por John Dewey, Harvey A. Carr, George Herbert Mead e
James Rowland Angell. Embora houvessem outros nomes, esses se mostraram como os principais
proponentes do meio funcionalista. Independente disso, os funcionalistas focaram a sua
atenção na experiência consciente.
Funcionalismo
William James (1842-1910)
 A visão que se tornou o ponto central do funcionalismo americano foi a teoria de
que a psicologia não tem como meta a descoberta dos elementos da experiência, mas
sim o estudo sobre a adaptação dos seres humanos ao seu meio ambiente. A função
da nossa consciência é guiar-nos aos fins necessários para a sobrevivência. A
consciência é vital para as necessidades dos seres complexos em um ambiente
complexo; de outra forma, a evolução humana não ocorreria.
 Ele também enfatizava os aspectos não racionais da natureza humana. As pessoas
eram criaturas dotadas de emoção e paixão, assim como de pensamento e razão.
Mesmo quando discutia os processos puramente intelectuais, James destacava o não-
racional. Alegava que a condição física afetava o intelecto, que os fatores
emocionais determinavam as crenças e que as necessidades e os desejos humanos
influenciavam a formação da razão e dos conceitos. Assim, James não considerava
as pessoas seres totalmente racionais.
A biografia de James
 William James nasceu no Astor House, um hotel da cidade de Nova York, em uma família
destacada e rica. Seu pai (naquela época, o segundo homem mais rico dos Estados Unidos)
dedicou-se com entusiasmo, embora de forma inconsistente, à educação dos filhos, que
alternava entre a Europa e os Estados Unidos. Assim, os anos escolares iniciais de James
foram passados em países como Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Suíça e Estados Unidos.
 James passou por muitas experimentações profissionais, aos 18 anos, James decidiu tornar-se
artista, e seis meses no ateliê do pintor William Hunt, em Newport, Rhode Island,
convenceram-no de que, apesar da boa técnica, não era dotado de talento suficiente para
tornar-se um grande artista. Desistiu da carreira e acabou matriculando-se na Lawrence
Scientific School, em Harvard.
 Tornando-se neurótico. Pouco tempo depois de chegar a Harvard, começou a perder a
autoconfiança e a saúde, transformando-se em uma pessoa extremamente neurótica para o resto
da vida. Abandonou o interesse pela química, aparentemente em razão da precisão exigida no
trabalho laboratorial, e tentou prosseguir com a medicina, que, no entanto, não lhe
despertava muito interesse.
 James abandonou a medicina para auxiliar o zoólogo Louis Agassiz em uma expedição à bacia
do rio Amazonas, para colher espécies de animais marinhos. A viagem deu-lhe oportunidade de
ter uma amostra da carreira na biologia, mas logo percebeu que não conseguiria suportar a
precisão das coletas e da classificação das espécies, bem como as exigências físicas do
trabalho de campo. Essa reação ao trabalho científico na química e na biologia professava a
sua posterior aversão pela experimentação no campo da psicologia.
A biografia de James
 Os problemas de saúde de James, o acompanharam por muitos anos e estavam sempre presentes
em suas trocas de cartas com amigos, sendo descritos e detalhados, levando a perceber que
não era o único que apresentavam sintomas depressivos e pensamentos suicidas.
 O neurologista norte-americano George Beard cunhou o termo “neurastenia” para referir-se a
um estado nervoso peculiar do norte-americano. Relacionou uma variedade de sintomas, como
insônia, hipocondria, dor de cabeça, erupções cutâneas, cansaço nervoso e um estado que
chamou de colapso cerebral (Lutz, 1991; Schuster, 2011). James chamou a síndrome de
“americanite”, e ela rapidamente se tornou a principal enfermidade das classes
privilegiadas (Holtzman, 2012; Ross, 1991).
 Beard também verificou que a neurastenia ocorria com mais frequência entre os “que
trabalhavam com o cérebro, sendo uma condição encontrada nos estados do Norte e do Leste, e
que resultava de uma diminuição da energia nervosa da pessoa”. Ele relacionou o fato ao
rápido desenvolvimento dos relógios e à consequente ênfase à obediência de horários e às
crescentes pressões do tempo, particularmente, no ambiente de trabalho.
 Spencer reforçou essa noção de que o trabalho em um ritmo tão frenético é um perigo para a
saúde mental. Ele disse que, “para os americanos, o trabalho tinha se tornado uma obsessão
patológica. Os americanos estavam colocando em perigo a saúde mental e física pelo excesso
de trabalho” (apud Shapin, 2007, p. 75). Vejam que Spencer fez esse comentário antes da
nossa obsessão pela multitarefa e por levar o trabalho conosco 24 horas por dia, sete dias
por semana.
A biografia de James
Descobrindo a psicologia
 No periodo de depressão, em 1869, James começou a desenvolver uma filosofìa de
vida, incentivado não tanto pela curiosidade intelectual, mas pelo desespero. Leu
muita filosofia, até os ensaios de Charles Renouvier sobre o livre-arbítrio, o
que o convenceu da sua existência. Decidiu que seu primeiro ato de vontade
própria seria a crença no livre-arbítrio. Em seguida, passou a crer que consegui
ria curar a depressão apenas acreditando na força de vontade. Aparentemente,
obteve certo êxito, pois, em 1872, aceitou lecionar fisiologia em Harvard,
comentando ser “nobre para o espírito de uma pessoa ter um trabalho responsável
para realizar” (James, 1902, p. 167)
 No ano letivo de 1875-1876, James lecionou seu primeiro curso de psicologia, que
chamou de The relations between physiology and psychology [As relações entre a
fisiologia e a psicologia]. Por isso, Harvard foi a primeira universidade dos
Estados Unidos a oferecer o curso de psicologia experimental. James nunca
frequentara cursos formais de psicologia — o primeiro foi o seu.
A biografia de James
Descobrindo a psicologia
 James continuava a lecionar em Harvard quando se encontrava na cidade e, em 1885, foi
promovido a professor de filosofia. Quatro anos mais tarde, passou a ter o título de
professor de psicologia. Nessa época já havia conhecido vários psicólogos europeus, entre
os quais Wundt, que “causou-me uma agradável impressão pessoal, com a sua voz agradável e o
eterno sorriso franco nos lábios”. No entanto, alguns anos depois, James percebeu que Wundt
“não é um gênio, ele é um professor, um ser cuja tarefa é conhecer tudo e ter opinião
própria sobre qualquer assunto” (James apud Allen, 1967, p. 251, 304).
 O livro de James, Princípios de psicologia [The principies of psychology], foi finalmente
publicado em 1890, após 12 anos de escrita, em dois volumes. Foi um tremendo sucesso e uma
importante contribuição para a área. Quase 80 anos após a sua publicação, um psicólogo
declarou: “O livro Principies, de James é, sem sombra de dúvida, a obra mais culta e
provocante e, ao mesmo tempo, o livro de psicologia mais compreensível escrito até hoje em
inglês e em qualquer outro idioma” (MacLeod, 1969, p. iii).
 A reação favorável ao livro não foi unânime. Wundt e Titchener, criticados na obra, não
reagiram bem. Wundt declarou: “Trata-se de uma literatura dotada de beleza, mas não é
psicologia” (Wundt, apud Bjork, 1983, p. 12).
A biografia de James
Descobrindo a psicologia
 O próprio James não reagiu favoravelmente a seu livro. Escreveu uma carta ao
editor e descreveu o manuscrito como uma “massa repugnante, distendida,
intumescida, inflada e hidrópica, que certifica nada além de dois fatos:
primeiro, que não existe uma ciência da psicologia; segundo, que [William James]
é um incapaz” (James apud Allen, 1967, p. 314-315)
 Embora James houvesse instalado e equipado o laboratório de psicologia de
Harvard, ele não era experimentalista. Nunca se convencera do valor do trabalho
laboratorial e, pessoalmente, não gostava de realizar essa tarefa. Dizia que as
universidades americanas tinham laboratórios demais e, no livro Princípios de
psicologia, destacou que os resultados do trabalho de laboratório não eram
proporcionais aos enormes esforços exigidos. Portanto, não causa estranheza o
fato de sua contribuição à psicologia constituir-se de tão pouco trabalho
experimental.
Princípios de Psicologia
 Por que tantos estudiosos consideram James o maior psicólogo norte-americano? Três
hipóteses são levanta das para explicar tamanha importância e influência creditadas a ele.
Primeiro, James escrevia com uma clareza rara na ciência. Sua escrita era dotada de
magnetismo, espontaneidade e charme. Segundo, ele se posicionou contra o objetivo de Wundt
na psicologia — a análise da consciência a partir dos seus elementos. E, terceiro, James
ofereceu uma forma alternativa de analisar a mente, uma visão congruente com a abordagem
funcional da psicologia. Em resumo, a era da psicologia norte-americana estava preparada
para ouvir o que James tinha a dizer.
 No livro Princípios de psicologia, James apresentou a visão que acabou se tornando a
doutrina central do funcionalismo norte-americano — a psicologia não tem como meta a
descoberta dos elementos da experiência, como Wundt e Titchener argumentavam, mas o estudo
sobre a adaptação dos seres humanos ao meio ambiente. A função da nossa consciência é
guiar-nos aos fins necessários para a sobrevivência. A consciência é vital para as
necessidades dos seres complexos em um ambiente complexo; de outra forma, a evolução humana
não ocorreria.
 James também enfatizava os aspectos não racionais da natureza humana. As pessoas eram
criaturas dotadas de emoção e paixão, assim como de pensamento e razão. Alegava que a
condição física afetava o intelecto, que os fatores emocionais determinavam as crenças, e
que as necessidades e os desejos humanos influenciavam a formação da razão e dos conceitos.
Assim, James não considerava as pessoas seres totalmente racionais.
O objeto de estudo da psicologia:
A nova visão sobre a consciência
 James afirmava logo no início da obra que “A psicologia é a ciência da vida mental,
abrangendo tanto os seus fenômenos como as suas condições” (James, 1890, v. 1, p. 1). No
que tange ao objeto de estudo, as palavras chave são fenômenos e condições. O termo
fenômenos é utilizado para indicar que o objeto de estudo da psicologia deve ser buscado na
experiência imediata; já o termo condições, refere-se à importância do corpo,
particularmente do cérebro, na vida mental.
 Ele rebelava-se contra a artificialidade e a estreiteza da posição de Wundt. Acreditava
serem as experiências conscientes simplesmente experiências conscientes e não grupos ou
conjuntos de elementos. A descoberta de elementos mínimos da consciência, por meio da
análise introspectiva, não demonstra que eles existam independentemente de um observador
treinado. Os psicólogos realizam leituras da experiência com base na sua posição
sistemática e com o seu ponto de vista.
 Atingindo o ponto central da abordagem de Wundt, James declarou que as sensações simples
não existem na experiência consciente, existindo apenas como resultado de algum processo
retorcido de inferência ou abstração. Em uma declaração grosseira e eloquente, disse:
“Ninguém jamais experimentou uma sensação simples por si próprio. A
consciência, desde o dia do nosso nascimento, gera uma imensa
multiplicidade de objetos e relações, e o que denominamos sensações simples
é resultado da atenção discriminativa levada a um grau muito alto”. (James,
1890, v. 1, p. 224)
O objeto de estudo da psicologia:
A nova visão sobre a consciência
 James afirmava logo no início da obra que “A psicologia é a ciência da vida
mental, abrangendo tanto os seus fenômenos como as suas condições” (James, 1890,
v. 1, p. 1). No que tange ao objeto de estudo, as palavras chave são fenômenos e
condições. O termo fenômenos é utilizado para indicar que o objeto de estudo da
psicologia deve ser buscado na experiência imediata; já o termo condições,
refere-se à importância do corpo, particularmente do cérebro, na vida mental.
 No lugar da análise artificial e da redução da experiência consciente aos ditos
elementos componentes, James criou um programa de psicologia. A vida mental
consiste em uma unidade, em uma experiência total que se modifica. A consciência
é um fluxo constante, e qualquer tentativa de dividi-la em fases temporariamente
distintas pode distorcê-la. Para expressar essa ideia, James cunhou a expressão
fluxo de consciência.
 Como a consciência está em constante modificação, não é possível experimentar o
mesmo pensamento ou a mesma sensação mais de uma vez. Pode- -se pensar em um
objeto ou um estímulo em mais de uma ocasião, mas os pensamentos não são
idênticos em cada situação. São diferentes em razão das experiências
intervenientes. Desse modo, a consciência é definida como cumulativa, e não
recorrente.
O objeto de estudo da psicologia:
A nova visão sobre a consciência
 A mente é igualmente contínua. Não há interrupção abrupta no fluxo de
consciência. O principal critério de seleção é a relevância — a mente seleciona
os estímulos relevantes a fim de permitir que a consciência opere de modo lógico,
criando assim uma série de ideias que possam resultar uma conclusão racional.
 Por fim, James destacou a função ou o propósito da consciência. Acreditava que
ela desempenhava alguma função biológica, de outro modo não teria sobrevivido ao
tempo. A função da consciência é proporcionar a capacidade de adaptação ao
ambiente, permitindo-nos escolher. Para desenvolver essa ideia, James fazia a
distinção entre a escolha e o hábito; acreditava que os hábitos eram
involuntários e não conscientes. Quando estamos diante de um novo problema e
temos de escolher uma forma de enfrentá-lo, a consciência entra em cena. Essa
ênfase da intencionalidade reflete o impacto da teoria da evolução.
Os métodos da psicologia
 Uma vez que a psicologia lida com a consciência pessoal e imediata, a introspecção deve ser
o seu método básico. James dizia: “A observação introspectiva é o método em que temos de
confiar sempre e em primeiro lugar; temos de confiar na visão da nossa mente e na descrição
do que observamos. Todos concordam que é em nossa mente que descobrimos os estados da
consciência” (James, 1890, v. 1, p. 185). James tinha ciência das dificuldades da
introspecção e a aceitava, mesmo considerando-a um método imperfeito de observação. No
entanto, acreditava na possibilidade de uma verificação mais apurada dos resultados
produzidos mediante a comparação das constatações obtidas por diversos observadores.
 Como complementação dos métodos introspectivo e experimental, James recomendava o método
comparativo. A averiguação do funcionamento psicológico de populações distintas, como de
animais, crianças e pessoas não alfabetizadas, ou de indivíduos emocionalmente
desequilibrados, permitiria descobrir variações significativas na vida mental. Os métodos
citados em sua obra Princípios de psicologia salientam a principal diferença entre a
psicologia estrutural e a funcional: o movimento funcionalista não se restringia a um único
método, como as formas de introspecção de Wundt ou Titchener; o funcionalismo também
aceitava e adotava outras metodologias. Esse tratamento eclético ampliou consideravelmente
a área de estudo da psicologia norte-americana.
O pragmatismo
 James enfatizava a importância do pragmatismo na psicologia, cuja doutrina se baseia na
comprovação da validade de uma ideia ou de um conceito mediante a análise das consequências
práticas. A conhecida expressão do ponto de vista pragmático afirma que “se funcionar, é
verdadeiro”. O pragmatismo foi desenvolvido na década de 1870, por Charles Sanders Peirce,
matemático, filósofo e amigo de longa data de James. O trabalho dele foi reconhecido
somente após a publicação da obra escrita por James, Pragmatismo [Pragmatism] (1907), que
formalizou a doutrina como um movimento filosófico
 A teoria das emoções de James contradizia o pensamento corrente sobre a natureza dos
estados emocionais. Os psicólogos partiam do princípio de que a experiência mental
subjetiva da emoção antecedia a expressão ou a ação corporal. O exemplo clássico de avistar
um animal selvagem, sentir medo e fugir correndo ilustra a ideia de que a emoção (o medo)
ocorre antes da reação do corpo (a fuga). James inverteu essa ordem, e afirmou que a reação
física ocorre antes do surgimento da emoção, principalmente das emoções que considerava
“grosseiras”, como medo, ira, dor e compaixão. Por exemplo, vemos o animal, corremos e,
então, vivenciamos a emoção do medo. “Nosso sentimento em relação às reações [físicas] que
ocorrem é a emoção” (James, 1890, v. 2, p. 449)
A teoria das emoções
O eu de três partes
James sugeriu que o sentido do eu de uma pessoa é formado por três aspectos ou
componentes.
 O eu material  consiste de tudo o que chamamos de pessoal, como nosso corpo,
família, lar ou estilo de se vestir.
 O eu social  refere-se ao reconhecimento que obtemos por meio de outras
pessoas. James salientou que temos muitos eus sociais; apresentamos diferentes
lados de nós mesmos a diferentes pessoas. Por exemplo, você, provavelmente, se
comporta com seus pais de uma maneira diferente do que o faz com seus conhecidos
ou amantes. Cada um o verá de um modo diferente.
 O eu espiritual  refere-se a nosso ser interior ou subjetivo.

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  • 2. A evolução chega aos Estados Unidos: Herbert Spencer (1820-1903)  A filosofia que rendeu a Herbert Spencer o reconhecimento e a aclamação foi o darwinismo — a noção da evolução e da sobrevivência do mais apto. Spencer estendeu a teoria para muito além do próprio trabalho de Darwin.  Darwinismo social  Spencer alegava que o desenvolvimento de todos os aspectos do universo é evolucionário, incluindo o caráter humano e as instituições sociais, em conformidade com o princípio da “sobrevivência do mais apto” (expressão cunhada por ele). Essa ênfase no chamado darwinismo social — aplicação da teoria da evolução da natureza humana e da sociedade — foi recebida com muito entusiasmo nos Estados Unidos.  Na visão utópica de Spencer, se o princípio da sobrevivência do mais apto operasse com liberdade, apenas os melhores sobreviveriam. Portanto, a perfeição humana seria inevitável, desde que nenhuma ação interferisse na ordem natural das coisas. O individualismo e o sistema econômico do laissez-faire eram vitais, enquanto os aspectos governamentais para regulamentar negócios e indústria e a assistência social (por meio de subsídios a educação, moradia e pobreza) eram opostos.  A população e as organizações deveriam ter liberdade para se desenvolver com autonomia, valendo-se de meios próprios, do mesmo modo que as demais espécies vivas se desenvolviam e adaptavam-se livremente ao ambiente natural. Qualquer auxílio do Estado interferiria no processo evolutivo natural.
  • 3. A evolução chega aos Estados Unidos: Herbert Spencer (1820-1903)  Para Spencer, pessoas, programas, economia ou instituições que não se adaptassem eram considerados inaptos para sobreviver e deviam perecer (tornarem-se “extintos”) para a melhoria de toda a sociedade. Se o Estado continuasse a sustentar empresas que não funcionassem bem, elas conseguiriam sobreviver, mas acabariam enfraquecendo a sociedade, violando a lei básica natural de que apenas o mais forte e mais apto deve sobreviver. Mais uma vez, a ideia de Spencer era que somente com a sobrevivência dos melhores a sociedade atingiria a perfeição.  Essa mensagem era compatível com o espírito individualista norte- -americano, e as expressões “sobrevivência do mais apto” e “a luta pela existência” rapidamente passaram a fazer parte da consciência nacional.  Os norte-americanos eram voltados ao prático, útil e funcional. Os estágios iniciais da psicologia norte-americana refletiram essas qualidades. Por essa razão, a teoria evolucionista foi mais bem-aceita nos Estados Unidos do que em outras nações. A psicologia norte-americana transformou-se em uma psicologia funcional, porque a evolução e o espírito funcional eram compatíveis com esse temperamento básico. Os pontos de vista de Spencer eram compatíveis com o ethos (modo de ser) norte-americano, daí o motivo pelo qual o sistema filosófico dele influenciou todos os campos do conhecimento.
  • 4. Funcionalismo William James (1842-1910)  O pioneiro da Psicologia Funcional desenvolvida nos Estados Unidos foi o americano William James (1842-1910) que, segundo pesquisa realizada 80 anos após sua morte, perdia prestigio apenas para Wilhelm Wundt. Mas sua importância perdia um pouco de brilho, devido ao seu interesse por assuntos místicos como telepatia, clarividência, espiritismo e comunicação com os mortos. Tinha verdadeira aversão pelo método de experimentação em psicologia e pouco trabalho realizou nessa área.  James não fundou nenhuma corrente de pensamento ou escola de psicologia nova, sua atitude de pesquisador não tinha nada de experimentalista, como queriam fazer parecer associando sua forma de psicologia à forma da psicologia experimental. Ele não fundou a psicologia funcional, mas apresentou de forma clara e eficaz as suas ideias dentro da atmosfera funcionalista impregnada na psicologia americana, influenciando o movimento funcionalista e inspirando as gerações posteriores de psicólogos.  Com isso, influenciou o movimento e diversos psicólogos que chegaram nas décadas seguintes. A corrente acaba sendo reconhecida por John Dewey, Harvey A. Carr, George Herbert Mead e James Rowland Angell. Embora houvessem outros nomes, esses se mostraram como os principais proponentes do meio funcionalista. Independente disso, os funcionalistas focaram a sua atenção na experiência consciente.
  • 5. Funcionalismo William James (1842-1910)  A visão que se tornou o ponto central do funcionalismo americano foi a teoria de que a psicologia não tem como meta a descoberta dos elementos da experiência, mas sim o estudo sobre a adaptação dos seres humanos ao seu meio ambiente. A função da nossa consciência é guiar-nos aos fins necessários para a sobrevivência. A consciência é vital para as necessidades dos seres complexos em um ambiente complexo; de outra forma, a evolução humana não ocorreria.  Ele também enfatizava os aspectos não racionais da natureza humana. As pessoas eram criaturas dotadas de emoção e paixão, assim como de pensamento e razão. Mesmo quando discutia os processos puramente intelectuais, James destacava o não- racional. Alegava que a condição física afetava o intelecto, que os fatores emocionais determinavam as crenças e que as necessidades e os desejos humanos influenciavam a formação da razão e dos conceitos. Assim, James não considerava as pessoas seres totalmente racionais.
  • 6. A biografia de James  William James nasceu no Astor House, um hotel da cidade de Nova York, em uma família destacada e rica. Seu pai (naquela época, o segundo homem mais rico dos Estados Unidos) dedicou-se com entusiasmo, embora de forma inconsistente, à educação dos filhos, que alternava entre a Europa e os Estados Unidos. Assim, os anos escolares iniciais de James foram passados em países como Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Suíça e Estados Unidos.  James passou por muitas experimentações profissionais, aos 18 anos, James decidiu tornar-se artista, e seis meses no ateliê do pintor William Hunt, em Newport, Rhode Island, convenceram-no de que, apesar da boa técnica, não era dotado de talento suficiente para tornar-se um grande artista. Desistiu da carreira e acabou matriculando-se na Lawrence Scientific School, em Harvard.  Tornando-se neurótico. Pouco tempo depois de chegar a Harvard, começou a perder a autoconfiança e a saúde, transformando-se em uma pessoa extremamente neurótica para o resto da vida. Abandonou o interesse pela química, aparentemente em razão da precisão exigida no trabalho laboratorial, e tentou prosseguir com a medicina, que, no entanto, não lhe despertava muito interesse.  James abandonou a medicina para auxiliar o zoólogo Louis Agassiz em uma expedição à bacia do rio Amazonas, para colher espécies de animais marinhos. A viagem deu-lhe oportunidade de ter uma amostra da carreira na biologia, mas logo percebeu que não conseguiria suportar a precisão das coletas e da classificação das espécies, bem como as exigências físicas do trabalho de campo. Essa reação ao trabalho científico na química e na biologia professava a sua posterior aversão pela experimentação no campo da psicologia.
  • 7. A biografia de James  Os problemas de saúde de James, o acompanharam por muitos anos e estavam sempre presentes em suas trocas de cartas com amigos, sendo descritos e detalhados, levando a perceber que não era o único que apresentavam sintomas depressivos e pensamentos suicidas.  O neurologista norte-americano George Beard cunhou o termo “neurastenia” para referir-se a um estado nervoso peculiar do norte-americano. Relacionou uma variedade de sintomas, como insônia, hipocondria, dor de cabeça, erupções cutâneas, cansaço nervoso e um estado que chamou de colapso cerebral (Lutz, 1991; Schuster, 2011). James chamou a síndrome de “americanite”, e ela rapidamente se tornou a principal enfermidade das classes privilegiadas (Holtzman, 2012; Ross, 1991).  Beard também verificou que a neurastenia ocorria com mais frequência entre os “que trabalhavam com o cérebro, sendo uma condição encontrada nos estados do Norte e do Leste, e que resultava de uma diminuição da energia nervosa da pessoa”. Ele relacionou o fato ao rápido desenvolvimento dos relógios e à consequente ênfase à obediência de horários e às crescentes pressões do tempo, particularmente, no ambiente de trabalho.  Spencer reforçou essa noção de que o trabalho em um ritmo tão frenético é um perigo para a saúde mental. Ele disse que, “para os americanos, o trabalho tinha se tornado uma obsessão patológica. Os americanos estavam colocando em perigo a saúde mental e física pelo excesso de trabalho” (apud Shapin, 2007, p. 75). Vejam que Spencer fez esse comentário antes da nossa obsessão pela multitarefa e por levar o trabalho conosco 24 horas por dia, sete dias por semana.
  • 8. A biografia de James Descobrindo a psicologia  No periodo de depressão, em 1869, James começou a desenvolver uma filosofìa de vida, incentivado não tanto pela curiosidade intelectual, mas pelo desespero. Leu muita filosofia, até os ensaios de Charles Renouvier sobre o livre-arbítrio, o que o convenceu da sua existência. Decidiu que seu primeiro ato de vontade própria seria a crença no livre-arbítrio. Em seguida, passou a crer que consegui ria curar a depressão apenas acreditando na força de vontade. Aparentemente, obteve certo êxito, pois, em 1872, aceitou lecionar fisiologia em Harvard, comentando ser “nobre para o espírito de uma pessoa ter um trabalho responsável para realizar” (James, 1902, p. 167)  No ano letivo de 1875-1876, James lecionou seu primeiro curso de psicologia, que chamou de The relations between physiology and psychology [As relações entre a fisiologia e a psicologia]. Por isso, Harvard foi a primeira universidade dos Estados Unidos a oferecer o curso de psicologia experimental. James nunca frequentara cursos formais de psicologia — o primeiro foi o seu.
  • 9. A biografia de James Descobrindo a psicologia  James continuava a lecionar em Harvard quando se encontrava na cidade e, em 1885, foi promovido a professor de filosofia. Quatro anos mais tarde, passou a ter o título de professor de psicologia. Nessa época já havia conhecido vários psicólogos europeus, entre os quais Wundt, que “causou-me uma agradável impressão pessoal, com a sua voz agradável e o eterno sorriso franco nos lábios”. No entanto, alguns anos depois, James percebeu que Wundt “não é um gênio, ele é um professor, um ser cuja tarefa é conhecer tudo e ter opinião própria sobre qualquer assunto” (James apud Allen, 1967, p. 251, 304).  O livro de James, Princípios de psicologia [The principies of psychology], foi finalmente publicado em 1890, após 12 anos de escrita, em dois volumes. Foi um tremendo sucesso e uma importante contribuição para a área. Quase 80 anos após a sua publicação, um psicólogo declarou: “O livro Principies, de James é, sem sombra de dúvida, a obra mais culta e provocante e, ao mesmo tempo, o livro de psicologia mais compreensível escrito até hoje em inglês e em qualquer outro idioma” (MacLeod, 1969, p. iii).  A reação favorável ao livro não foi unânime. Wundt e Titchener, criticados na obra, não reagiram bem. Wundt declarou: “Trata-se de uma literatura dotada de beleza, mas não é psicologia” (Wundt, apud Bjork, 1983, p. 12).
  • 10. A biografia de James Descobrindo a psicologia  O próprio James não reagiu favoravelmente a seu livro. Escreveu uma carta ao editor e descreveu o manuscrito como uma “massa repugnante, distendida, intumescida, inflada e hidrópica, que certifica nada além de dois fatos: primeiro, que não existe uma ciência da psicologia; segundo, que [William James] é um incapaz” (James apud Allen, 1967, p. 314-315)  Embora James houvesse instalado e equipado o laboratório de psicologia de Harvard, ele não era experimentalista. Nunca se convencera do valor do trabalho laboratorial e, pessoalmente, não gostava de realizar essa tarefa. Dizia que as universidades americanas tinham laboratórios demais e, no livro Princípios de psicologia, destacou que os resultados do trabalho de laboratório não eram proporcionais aos enormes esforços exigidos. Portanto, não causa estranheza o fato de sua contribuição à psicologia constituir-se de tão pouco trabalho experimental.
  • 11. Princípios de Psicologia  Por que tantos estudiosos consideram James o maior psicólogo norte-americano? Três hipóteses são levanta das para explicar tamanha importância e influência creditadas a ele. Primeiro, James escrevia com uma clareza rara na ciência. Sua escrita era dotada de magnetismo, espontaneidade e charme. Segundo, ele se posicionou contra o objetivo de Wundt na psicologia — a análise da consciência a partir dos seus elementos. E, terceiro, James ofereceu uma forma alternativa de analisar a mente, uma visão congruente com a abordagem funcional da psicologia. Em resumo, a era da psicologia norte-americana estava preparada para ouvir o que James tinha a dizer.  No livro Princípios de psicologia, James apresentou a visão que acabou se tornando a doutrina central do funcionalismo norte-americano — a psicologia não tem como meta a descoberta dos elementos da experiência, como Wundt e Titchener argumentavam, mas o estudo sobre a adaptação dos seres humanos ao meio ambiente. A função da nossa consciência é guiar-nos aos fins necessários para a sobrevivência. A consciência é vital para as necessidades dos seres complexos em um ambiente complexo; de outra forma, a evolução humana não ocorreria.  James também enfatizava os aspectos não racionais da natureza humana. As pessoas eram criaturas dotadas de emoção e paixão, assim como de pensamento e razão. Alegava que a condição física afetava o intelecto, que os fatores emocionais determinavam as crenças, e que as necessidades e os desejos humanos influenciavam a formação da razão e dos conceitos. Assim, James não considerava as pessoas seres totalmente racionais.
  • 12. O objeto de estudo da psicologia: A nova visão sobre a consciência  James afirmava logo no início da obra que “A psicologia é a ciência da vida mental, abrangendo tanto os seus fenômenos como as suas condições” (James, 1890, v. 1, p. 1). No que tange ao objeto de estudo, as palavras chave são fenômenos e condições. O termo fenômenos é utilizado para indicar que o objeto de estudo da psicologia deve ser buscado na experiência imediata; já o termo condições, refere-se à importância do corpo, particularmente do cérebro, na vida mental.  Ele rebelava-se contra a artificialidade e a estreiteza da posição de Wundt. Acreditava serem as experiências conscientes simplesmente experiências conscientes e não grupos ou conjuntos de elementos. A descoberta de elementos mínimos da consciência, por meio da análise introspectiva, não demonstra que eles existam independentemente de um observador treinado. Os psicólogos realizam leituras da experiência com base na sua posição sistemática e com o seu ponto de vista.  Atingindo o ponto central da abordagem de Wundt, James declarou que as sensações simples não existem na experiência consciente, existindo apenas como resultado de algum processo retorcido de inferência ou abstração. Em uma declaração grosseira e eloquente, disse: “Ninguém jamais experimentou uma sensação simples por si próprio. A consciência, desde o dia do nosso nascimento, gera uma imensa multiplicidade de objetos e relações, e o que denominamos sensações simples é resultado da atenção discriminativa levada a um grau muito alto”. (James, 1890, v. 1, p. 224)
  • 13. O objeto de estudo da psicologia: A nova visão sobre a consciência  James afirmava logo no início da obra que “A psicologia é a ciência da vida mental, abrangendo tanto os seus fenômenos como as suas condições” (James, 1890, v. 1, p. 1). No que tange ao objeto de estudo, as palavras chave são fenômenos e condições. O termo fenômenos é utilizado para indicar que o objeto de estudo da psicologia deve ser buscado na experiência imediata; já o termo condições, refere-se à importância do corpo, particularmente do cérebro, na vida mental.  No lugar da análise artificial e da redução da experiência consciente aos ditos elementos componentes, James criou um programa de psicologia. A vida mental consiste em uma unidade, em uma experiência total que se modifica. A consciência é um fluxo constante, e qualquer tentativa de dividi-la em fases temporariamente distintas pode distorcê-la. Para expressar essa ideia, James cunhou a expressão fluxo de consciência.  Como a consciência está em constante modificação, não é possível experimentar o mesmo pensamento ou a mesma sensação mais de uma vez. Pode- -se pensar em um objeto ou um estímulo em mais de uma ocasião, mas os pensamentos não são idênticos em cada situação. São diferentes em razão das experiências intervenientes. Desse modo, a consciência é definida como cumulativa, e não recorrente.
  • 14. O objeto de estudo da psicologia: A nova visão sobre a consciência  A mente é igualmente contínua. Não há interrupção abrupta no fluxo de consciência. O principal critério de seleção é a relevância — a mente seleciona os estímulos relevantes a fim de permitir que a consciência opere de modo lógico, criando assim uma série de ideias que possam resultar uma conclusão racional.  Por fim, James destacou a função ou o propósito da consciência. Acreditava que ela desempenhava alguma função biológica, de outro modo não teria sobrevivido ao tempo. A função da consciência é proporcionar a capacidade de adaptação ao ambiente, permitindo-nos escolher. Para desenvolver essa ideia, James fazia a distinção entre a escolha e o hábito; acreditava que os hábitos eram involuntários e não conscientes. Quando estamos diante de um novo problema e temos de escolher uma forma de enfrentá-lo, a consciência entra em cena. Essa ênfase da intencionalidade reflete o impacto da teoria da evolução.
  • 15. Os métodos da psicologia  Uma vez que a psicologia lida com a consciência pessoal e imediata, a introspecção deve ser o seu método básico. James dizia: “A observação introspectiva é o método em que temos de confiar sempre e em primeiro lugar; temos de confiar na visão da nossa mente e na descrição do que observamos. Todos concordam que é em nossa mente que descobrimos os estados da consciência” (James, 1890, v. 1, p. 185). James tinha ciência das dificuldades da introspecção e a aceitava, mesmo considerando-a um método imperfeito de observação. No entanto, acreditava na possibilidade de uma verificação mais apurada dos resultados produzidos mediante a comparação das constatações obtidas por diversos observadores.  Como complementação dos métodos introspectivo e experimental, James recomendava o método comparativo. A averiguação do funcionamento psicológico de populações distintas, como de animais, crianças e pessoas não alfabetizadas, ou de indivíduos emocionalmente desequilibrados, permitiria descobrir variações significativas na vida mental. Os métodos citados em sua obra Princípios de psicologia salientam a principal diferença entre a psicologia estrutural e a funcional: o movimento funcionalista não se restringia a um único método, como as formas de introspecção de Wundt ou Titchener; o funcionalismo também aceitava e adotava outras metodologias. Esse tratamento eclético ampliou consideravelmente a área de estudo da psicologia norte-americana.
  • 16. O pragmatismo  James enfatizava a importância do pragmatismo na psicologia, cuja doutrina se baseia na comprovação da validade de uma ideia ou de um conceito mediante a análise das consequências práticas. A conhecida expressão do ponto de vista pragmático afirma que “se funcionar, é verdadeiro”. O pragmatismo foi desenvolvido na década de 1870, por Charles Sanders Peirce, matemático, filósofo e amigo de longa data de James. O trabalho dele foi reconhecido somente após a publicação da obra escrita por James, Pragmatismo [Pragmatism] (1907), que formalizou a doutrina como um movimento filosófico  A teoria das emoções de James contradizia o pensamento corrente sobre a natureza dos estados emocionais. Os psicólogos partiam do princípio de que a experiência mental subjetiva da emoção antecedia a expressão ou a ação corporal. O exemplo clássico de avistar um animal selvagem, sentir medo e fugir correndo ilustra a ideia de que a emoção (o medo) ocorre antes da reação do corpo (a fuga). James inverteu essa ordem, e afirmou que a reação física ocorre antes do surgimento da emoção, principalmente das emoções que considerava “grosseiras”, como medo, ira, dor e compaixão. Por exemplo, vemos o animal, corremos e, então, vivenciamos a emoção do medo. “Nosso sentimento em relação às reações [físicas] que ocorrem é a emoção” (James, 1890, v. 2, p. 449) A teoria das emoções
  • 17. O eu de três partes James sugeriu que o sentido do eu de uma pessoa é formado por três aspectos ou componentes.  O eu material  consiste de tudo o que chamamos de pessoal, como nosso corpo, família, lar ou estilo de se vestir.  O eu social  refere-se ao reconhecimento que obtemos por meio de outras pessoas. James salientou que temos muitos eus sociais; apresentamos diferentes lados de nós mesmos a diferentes pessoas. Por exemplo, você, provavelmente, se comporta com seus pais de uma maneira diferente do que o faz com seus conhecidos ou amantes. Cada um o verá de um modo diferente.  O eu espiritual  refere-se a nosso ser interior ou subjetivo.